No outro dia andei a passear a pé pelo Saldanha e fiquei tão feliz! Já
sabia há muito dos passeios rebaixados a pensar nas pessoas que têm mobilidade
reduzida, mas andar por lá e com os pés poder tirar as medidas àqueles
passeios, passadeiras com e sem semáforos, a largura, a
estreiteza suave de piso. Fantástico!
Agora sim, o Saldanha, assim como toda a Avenida e algumas outras zonas de
Lisboa, está equitativo e inclusivo. As cadeiras de rodas já podem deslizar,
atravessar a estrada sem receio da altura do passeio possibilitar
encontrar o chão como destino. Mas não é só quem usa cadeira de rodas que tem
mobilidade reduzida. Quem tem uma doença que acometa a marcha, a partir de
algum momento passa a ter a marcha reduzida, basta o músculo da perna não
dar resposta em tempo útil, por exemplo, como no caso de uma CMT
mais desenvolvida. Nestes casos, em que levantar uma perna cujo músculo não tem
a força necessária para sustentar o movimento e a própria perna, o
rebaixamento do passeio representa uma ajuda extra numa acção diária.
Agora, podemo-nos todos espraiar nos largos passeios. Já ninguém se
atropela. Todos se movimentam sem percalços, sem ver diminuída a sua dignidade
e sem ter de provar a força da sua personalidade a cada acção que intenta
na rua... argh!!! Eu sei! Ainda não chegámos a tanto. Era só o meu optimismo
exuberante a ganhar entusiasmo.
Ainda falta muitíssimo por fazer. Quase que vos oiço ao meu ouvido: mas é só em Lisboa, Susana, e nas ruas e
avenidas principais para turista ver e ficarmos bonitos na fotografia...
Bem, respondo sim e não a essas questões. Sim, têm razão, é em Lisboa e é
sempre primeiro em Lisboa para turista ver. É verdade. Mas por algum lado tem
de se começar. Antes pelo sítio "errado" do que por nenhum, antes pelo
"motivo errado" do que não acontecer nada. As coisas são mesmo assim,
recorrentemente assim.
Este é apenas um primeiro tijolo - muito bem-vindo,
na minha humilde opinião - duma construção que se quer grande e sólida: a dos
direitos humanos e cívicos de quem têm deficiência, mas eu gosto de
celebrar cada vitória, cada ganho, cada passo em direcção ao correcto. Tudo
é uma questão de perspectiva e forma de estar na vida. Há que não fechar os
olhos face ao que está por fazer, vestir o fato-macaco todos os dias e
arregaçar bem as mangas. Mas a cada sucesso, aplaudir.
- 13:06
- 0 Comentários